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quinta-feira, 31 de maio de 2012

860 cães com leishmaniose em Votuporanga - SP


Saúde 
20/05/2012 - Fernanda Ribeiro Ishikawa
Mais de 860 cães estão com leishmaniose 
Veterinário defende tratamento para a doença em animais, enquanto pesquisador diz que procedimento é crime

Mais de 860 cães estão com leishmaniose, em Votuporanga. A informação é do Secez (Setor de Endemias e Zoonoses), que aponta nove casos da doença em humanos.
A quantidade de casos nos quatro primeiros meses de 2012 é superior à registrada em todo ano passado, quando 613 cães foram contaminados e 4 pessoas tiveram a confirmação da doença.
Em entrevista exclusiva ao Diário, o médico especialista Mauro Marzochi, pesquisador da Fundação Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro, explicou sobre a polêmica que envolve o tratamento da leishmaniose em cães.
“Existem estudos científicos que comprovam que não há cura pra essa doença. O que acontece é uma melhora clínica do animal, o que não muda o fato dele continuar sendo mais que um veículo transmissor, ou seja, um portador do parasita. 

Mesmo com os remédios em uso atualmente, o cachorro continua oferecendo o risco de infectar demais animais e humanos. O tratamento não é recomendado, como também é considerado crime, já que é proibido pelo Ministério da Saúde como medida de controle”, explica.

Risco
Marzochi é bem severo no sentido de que o tratamento põe pessoas e animais saudáveis em risco. “Manter vivo o cão infectado é um perigo pra população. Não há justificativa para fazer esse tratamento, a não ser que você pegue seu cachorro tratado e o leve para os Alpes Suíços, onde não há vetores. A única coisa que o tratamento faz é a melhora clínica do animal, mas ele continuará sendo portador da doença, portanto, não há nada que justifique o risco de manter vivo um animal doente”.
Segundo Marzochi, não há medicamento de uso veterinário que combata o parasita. “Além disso, não se pode usar remédio de uso humano no animal, porque cria resistência do parasita. Ou seja, não há medicamento efetivo pra cura da doença”.

Método mais eficaz
Para o especialista, tirar o cão infectado de circulação é a medida mais eficaz no controle da doença, porém, a prevenção continua sendo a melhor solução. “Deixar quintais limpos, sem qualquer tipo de matéria orgânica em decomposição, combater os insetos, efetuar saneamento nos municípios e tirar os cães doentes de circulação são procedimentos essenciais”.

TAC
Sobre o assunto, o veterinário Antônio Bernardo Carneiro Neto propõe um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) que libere o tratamento de cães contaminado, em Votuporanga.
“A exemplo do que acontece em cidades como Urânia, Jales e Natal-RN, propomos essa medida a fim de evitar o sacrifício dos animais, que não têm culpa da contaminação”, justifica Neto, admitindo que a leishmaniose não tem cura.
“Usaríamos a imunoterapia, que é a utilização em dobro da vacina que previne”.
O tratamento, segundo o veterinário, é caro, gira em torno dos R$ 1.500 a R$ 2 mil, incluindo exames, imunoterapia e medicamentos.
Entretanto, o tratamento só é realizado nos cães que não tiverem insuficiência renal provocada pelo estágio avançado da doença. “Quando é assim, recomendamos a eutanásia”.
De acordo com Neto, em Belo Horizonte os vereadores aprovaram a lei que distribui gratuitamente a vacina de leishmaniose. “Sabemos que o gasto é grande, mas se lá pôde fazer, aqui também poderia. Além disso, o valor gasto com a eutanásia pelo Poder Público daria para comprar, a preço de custo, duas coleiras Scalibor”.

“Crime”
Sobre o TAC, Marzochi dispara: “Isso é um crime! Só vai agravar a situação, prejudicando o controle ao invés de favorecer. As drogas para o tratamento não são eficazes, portanto, não dá pra pôr em risco a vida das pessoas mantendo um cão doente em casa”.
Pelo menos em um ponto o pesquisador e o veterinário concordam: a melhor medida de prevenção da doença é o controle dos quintais, mantendo os locais limpos e sem materiais em decomposição.
“A conduta adotada pela Prefeitura de Votuporanga está absolutamente correta. Porém, o Poder Público precisa da colaboração da população, limpando os terrenos e autorizando a entrada dos agentes de saúde nas casas, para fazer a fiscalização necessária”, finaliza o pesquisador.

Endemia
Recentemente, o Diário divulgou que Votuporanga registra uma endemia de leishmaniose. A informação foi passada pelo veterinário da Secretaria Municipal da Saúde, Elcio Sanchez Estevez Junior, que aproveitou a oportunidade para alertar a comunidade para a importância da prevenção à doença.
“A leishmaniose mata 8% dos casos de humanos tratados. No Brasil, ela mata mais que a malária e a dengue juntas. Portanto, é imprescindível que a população cuide dos seus cachorros e mantenha os terrenos e quintais limpos. O mosquito vetor da doença se reproduz em ambiente com material em decomposição”, explica.

Galinha
O Secez realiza fiscalização em quintais de casas e terrenos baldios, com o objetivo de determinar a retirada de galinhas e galinheiros que estejam em área urbana. Nas análises feitas pelo IAL (Instituto Adolph Lutz), 70% dos cães doentes foram contaminados pelo mosquito oriundos de galinheiros.
O alimento preferido do mosquito é o sangue da galinha. “A população precisa se conscientizar sobre os riscos à saúde causados por esse tipo de criação dentro do município. Agora os galináceos deverão ser criados em locais apropriados como chácaras, sítios, fazendas – enfim, oferecer um destino adequado a eles”, explica o veterinário Elcio.
Cães que convivem num mesmo espaço com galinhas, pintainhos e demais galináceos têm maiores chances de adquirirem a doença.

Controle
Dentro do Programa de Controle de Zoonoses estão algumas medidas de controle da leishmaniose:
Cão
- uso de repelentes específicos para o mosquito da leishmaniose;
- coleiras que contenham deltrametrina 4%;
- outros repelentes;
- realização de exames de sangue para diagnóstico da doença.
Mosquito
- colocação de telas em janelas ou fechar portas e janelas ao entardecer;
- RETIRADA DE GALINHAS DOS QUINTAIS;
- limpeza de quintais com a remoção diária de folhas secas, frutos e fezes de animais.

Sintomas da doença em animais
Embora aparentemente sadio, o cão pode estar doente, uma vez que os sinais clínicos podem demorar a aparecer. Mesmo assim, é importante ficar atento caso o cão apresente sintomas da doença, como:
- apatia;
- pelo opaco evoluindo para queda e feridas na pele;
- queda de pelos; (inicialmente ao redor dos olhos e nas orelhas)
- emagrecimento com apetite normal;
- lacrimejamento;
- conjuntivite purulenta;
- crescimento anormal das unhas;
- anemia;
- coriza;
Os sintomas de prostração e apatia citados podem ou não estar associados.
Mais informações sobre a doença ou a notificação de algum caso suspeito de leishmaniose visceral, o telefone é o (17) 3405-9787 - ramal 9716 ou 9786.

http://www.diariodevotuporanga.com.br/mm/index.php?_path=noticias_det&id=10880

E-Mail Responsável: redacao@diariodevotuporanga.com.br

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