A pesquisa foi realizada no distrito de Posse, localizado no município de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro. Lá, em 1996, foram notificados casos humanos de leishmaniose cutânea. Estudos mostraram que, naquela região, a doença deveria ser transmitida pelas espécies L. intermedia e L. whitmani. Foi no distrito de Posse que a equipe da bióloga Nataly Araújo de Souza, do Departamento de Entomologia do IOC, registrou - de forma inédita em uma área rural do Estado do Rio de Janeiro - essas duas espécies de insetos ocupando um mesmo espaço geográfico sem competição e compartilhando do mesmo mecanismo de transmissão da leishmaniose na localidade.
No distrito de Posse, durante dois anos, Nataly e sua equipe fizeram coletas semanais das fêmeas de L. intermedia e L. whitmani. São as fêmeas desses insetos que, ao sugarem o sangue do homem e de outros mamíferos, transmitem o parasito causador da leishmaniose. As coletas - feitas das 18h às 22h - foram realizadas em dois ambientes diferentes: nas proximidades de um domicílio e no meio da mata. Os insetos foram capturados em armadilhas ou então quando tentavam sugar o sangue dos pesquisadores.
Para ambas as espécies, tanto no peridomicílio como na floresta, o número de insetos capturados tentando sugar o sangue dos pesquisadores foi de 30% a 40% maior nas noites de lua cheia, se comparadas às noites de lua nova. No entanto, foi na lua nova que mais insetos caíram nas armadilhas. Nataly tem uma hipótese para explicar esse resultado. "Na lua nova, como há menos luz natural, a luz artificial das armadilhas atrai mais os insetos. Já a lua cheia ilumina tanto a mata que a luz artificial das armadilhas não é suficiente para atraí-los", sugere.
Mas por que os insetos picam mais na lua cheia? Seria por que enxergam melhor suas "vítimas"? "Não se pode afirmar isso. Os resultados da pesquisa comprovam apenas que o ciclo lunar interfere no comportamento de L. intermedia e L. whitmani. Os dados demonstram que, na lua cheia, é necessário redobrar a precaução com esses vetores da leishmaniose", diz a bióloga, que, no início deste ano, publicou um artigo sobre o estudo na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.
Em trabalhos anteriores, também realizados no distrito de Posse, Nataly investigou a sazonalidade de L. intermedia e L. whitmani. A primeira é mais comum no peridomicílio, pica sobretudo ao entardecer e é mais freqüente nos meses quentes (dezembro, janeiro e fevereiro). A segunda, encontrada principlamente na mata, costuma picar ao amanhecer e é mais abundante nos meses frios (junho, julho e agosto). O principal objetivo das pesquisas de Nataly é subsidiar estratégias de prevenção contra a leishmaniose. Até porque, diferentemente do lobisomem, a leishmaniose não é lenda - é um problema sério de saúde pública.
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