Doenças negligenciadas e suas causas…
Publicações, livros e revistas de excelente nível eu costumo ler e reler sempre. Entre estes, está RADIS comunicação em saúde, que é uma publicação da ENSP – Escola Nacional de Saúde Pública – Fiocruz. A edição de número 81, de maio de 2009, que comemorou o centenário de Carlos Chagas é um destes exemplos. Nesta edição, rica em conteúdo, encontrei uma entrevista que foi feita com o doutor e pesquisador, o médico José Rodrigues Coura, especialista em doenças infecciosas e parasitárias, especialmente chagas, malária e esquistossomose. O Doutor Coura diz na entrevista “o primeiro desafio é manter o controle da transmissão vetorial”…
Pois este desafio não vem sendo atingido há muitos anos. Os vetores se reproduzem de forma descontrolada e se alastram pelo Brasil infectando e matando centenas de brasileiros a cada epidemia e, entre estas, surgem novos casos a cada ano. Chagas, malária, esquistossomose, dengue, leishmaniose são doenças que já haviam sido erradicadas ressurgem e se espalham por todos os municípios, em todos estados do país. São patologias infecciosas, listadas como doenças negligenciadas que matam anualmente um elevado número de pessoas, e nada é feito para mudar efetivamente este quadro.
O médico também questiona “a falta de herdeiros” na área de pesquisa… Realmente, poucos se interessam em ‘mergulhar’ na pesquisa. Fico feliz quando, eventualmente, alguns se destacam em alguma pesquisa. Ocorre que, no Brasil, o incentivo e as oportunidades oferecidas quase sempre se destinam a alguns escolhidos ou indicados. Destes apenas alguns se sobressaem, se dedicam de corpo e alma. Outros, no entanto, apenas ‘roubam’ as possibilidades de quem realmente se interessa no estudo das patologias e seus vetores.
Outro grande entrave à pesquisa é a chamada classe política, com exceções é claro, que interfere negativamente em tudo, sempre motivada pela questão “quanto levo nisto”? Ou pior: existe interesse em acabar com o vetor da dengue, por exemplo? A resposta é “não”! Se acabar com o vetor acaba com a doença… E o medo de perder a partilha desta verba faz com que ações efetivas no combate e erradicação deste e de outros vetores seja não incentivadas e sim combatidas. Assim, a doença é mantida pelo jogo de interesses escusos que se escondem por trás de tão importante e necessário trabalho de pesquisa.
Ele discorre também sobre a descentralização, iniciada a partir de 1999, com o Ministério da Saúde se ‘despovoando’ de pessoas tecnicamente qualificadas. (Já citei em outros artigos o fato de funcionários da extinta Sucam, hoje Funasa, que estão atuando como motoristas nas secretarias municipais de saúde).
Cita ainda que o único estado a ‘ter juízo’ foi São Paulo, que mantém a Sucem – Superintendência de Controle de Endemias e, além disto, mantém grupos técnicos extremamente preparados e vigilantes… “Não é por acaso ser o primeiro estado a controlar a doença de Chagas, sendo o primeiro no Brasil em vigilância epidemiológica”.
Em sucessivas viagens a São Paulo, sempre observei esta atuação sendo São José dos Campos uma das referencias deste trabalho. Lamentavelmente, este mês pude observar uma assustadora presença de aedes aegypti na cidade. Percebi também a ausência do ‘fumacê’, que passava semanalmente pela cidade… Esta falta de ação propicia a entrada deste e de outros vetores. É exatamente assim que começa o domínio do inseto e as cidades perdem o controle.
O doutor Coura, mais adiante em sua entrevista cita um exemplo do interesse de alguns em manter o vetor: “Em Barcelos, às margens direitas do Rio Negro, na Amazonas me deparei com 40% dos moradores com Malária (…). Procurei o responsável, na prefeitura, pelo controle de vetores e obtive a seguinte explicação: Eu tenho a Malária que preciso, sem ela não tenho dinheiro”. E o doutor Coura complementa: “Em outros tempos eu iria até a Sucam e pediria ao diretor a demissão do sujeito. Mas hoje, o diretor da Funasa não tem influência sobre ele, quem manda é o prefeito”.
Esta explicação é, para mim, um caso de polícia. Quem age assim, em relação à saúde pública tem que ser preso. Por outro lado, se prender todos vai faltar lugar onde colocar gente deste tipo.
Em Rondonópolis, os casos de dengue se repetem, ano após ano e a cada epidemia, centenas de pessoas são infectadas ou reinfectadas e muitos perdem a saúde ou pior: a vida para um mosquito miserável mantido pela incompetência, ingerência e o descaso.
Quanto à leishmaniose, esta continua agindo silenciosamente… E matando!
Pois este desafio não vem sendo atingido há muitos anos. Os vetores se reproduzem de forma descontrolada e se alastram pelo Brasil infectando e matando centenas de brasileiros a cada epidemia e, entre estas, surgem novos casos a cada ano. Chagas, malária, esquistossomose, dengue, leishmaniose são doenças que já haviam sido erradicadas ressurgem e se espalham por todos os municípios, em todos estados do país. São patologias infecciosas, listadas como doenças negligenciadas que matam anualmente um elevado número de pessoas, e nada é feito para mudar efetivamente este quadro.
O médico também questiona “a falta de herdeiros” na área de pesquisa… Realmente, poucos se interessam em ‘mergulhar’ na pesquisa. Fico feliz quando, eventualmente, alguns se destacam em alguma pesquisa. Ocorre que, no Brasil, o incentivo e as oportunidades oferecidas quase sempre se destinam a alguns escolhidos ou indicados. Destes apenas alguns se sobressaem, se dedicam de corpo e alma. Outros, no entanto, apenas ‘roubam’ as possibilidades de quem realmente se interessa no estudo das patologias e seus vetores.
Outro grande entrave à pesquisa é a chamada classe política, com exceções é claro, que interfere negativamente em tudo, sempre motivada pela questão “quanto levo nisto”? Ou pior: existe interesse em acabar com o vetor da dengue, por exemplo? A resposta é “não”! Se acabar com o vetor acaba com a doença… E o medo de perder a partilha desta verba faz com que ações efetivas no combate e erradicação deste e de outros vetores seja não incentivadas e sim combatidas. Assim, a doença é mantida pelo jogo de interesses escusos que se escondem por trás de tão importante e necessário trabalho de pesquisa.
Ele discorre também sobre a descentralização, iniciada a partir de 1999, com o Ministério da Saúde se ‘despovoando’ de pessoas tecnicamente qualificadas. (Já citei em outros artigos o fato de funcionários da extinta Sucam, hoje Funasa, que estão atuando como motoristas nas secretarias municipais de saúde).
Cita ainda que o único estado a ‘ter juízo’ foi São Paulo, que mantém a Sucem – Superintendência de Controle de Endemias e, além disto, mantém grupos técnicos extremamente preparados e vigilantes… “Não é por acaso ser o primeiro estado a controlar a doença de Chagas, sendo o primeiro no Brasil em vigilância epidemiológica”.
Em sucessivas viagens a São Paulo, sempre observei esta atuação sendo São José dos Campos uma das referencias deste trabalho. Lamentavelmente, este mês pude observar uma assustadora presença de aedes aegypti na cidade. Percebi também a ausência do ‘fumacê’, que passava semanalmente pela cidade… Esta falta de ação propicia a entrada deste e de outros vetores. É exatamente assim que começa o domínio do inseto e as cidades perdem o controle.
O doutor Coura, mais adiante em sua entrevista cita um exemplo do interesse de alguns em manter o vetor: “Em Barcelos, às margens direitas do Rio Negro, na Amazonas me deparei com 40% dos moradores com Malária (…). Procurei o responsável, na prefeitura, pelo controle de vetores e obtive a seguinte explicação: Eu tenho a Malária que preciso, sem ela não tenho dinheiro”. E o doutor Coura complementa: “Em outros tempos eu iria até a Sucam e pediria ao diretor a demissão do sujeito. Mas hoje, o diretor da Funasa não tem influência sobre ele, quem manda é o prefeito”.
Esta explicação é, para mim, um caso de polícia. Quem age assim, em relação à saúde pública tem que ser preso. Por outro lado, se prender todos vai faltar lugar onde colocar gente deste tipo.
Em Rondonópolis, os casos de dengue se repetem, ano após ano e a cada epidemia, centenas de pessoas são infectadas ou reinfectadas e muitos perdem a saúde ou pior: a vida para um mosquito miserável mantido pela incompetência, ingerência e o descaso.
Quanto à leishmaniose, esta continua agindo silenciosamente… E matando!
(*) Beatriz Antonieta Lopes, bióloga – curso em Entomologia Médica
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