10/04/2012 - 06:40
Leishmaniose visceral mata oito vezes mais que a dengue em Mato Grosso do Sul
Nos últimos cinco anos, a doença matou 86 pessoas, contra 10 óbitos causados pela dengue
MICHELLE ROSSI / CORREIO ESTADO
No primeiro ano de notificações tabuladas, as confirmações de LV em humanos somaram 25 casos, com 8 óbitos (ver tabela nesta página). Em 2007, 2008 e 2009, período em que o combate à doença foi realizado de forma bastante agressiva, com altos índices de eutanásia de cães, distribuição de coleiras para os animais sem o diagnóstico para proteção contra a picada do mosquito (com o princípio ativo de deltametrina a 4%), houve uma explosão de casos confirmados da doença em humanos no Estado: 266, e o maior número de óbitos registrados até o momento: 28 mortes.
O Centro de Controle de Zoonoses de Campo Grande, responsável por operacionalizar as ações de combate à doença na maior cidade do Estado, e também apontada como a zona geográfica com mais casos da doença, informa apenas que houve redução de casos na cidade, mas não repassa ou não tabula dados: não há números sobre o percentual de redução da doença; muito menos do número de cães diagnosticados com a doença e eutanasiados. Não há justificativa para o não repasse de informações. “O trabalho constante de todas essas medidas demonstraram que ocorreu uma redução na positividade canina”, resumiu em nota a prefeitura sobre o resultado de ações de combate à doença.
Médicos devem estar atentos aos sintomas
Os sintomas iniciais da leishmaniose visceral em humanos: febre, emagrecimento e aumento do volume abdominal, pode ser confundido com outras doenças, até mesmo com a dengue, informa a médica infectologista Anamaria Paniago. “Outras doenças que são diagnosticadas em lugar da leishmaniose são leucemia, linfoma e tuberculose. Os médicos precisam estar atentos para o diagnóstico da leishmaniose, pois quanto mais cedo o paciente iniciar o tratamento, melhor será sua resposta”, diz a médica.
O diagnóstico é comprovado por meio de dois exames – aspirado de medula óssea e teste rápido – que são realizados apenas nos hospitais de referência, ou seja, após encaminhamento do paciente por suspeita clínica ou por resultado de hemograma (anemia, queda de leucócitos e de plaquetas). “Por isso é importante o médico desconfiar da doença e fazer o encaminhamento aos hospitais de referência. Acredito que a classe médica tem evoluído nesse sentido. Hoje, os médicos desconfiam mais dessa doença e consequentemente há mais notificações dela”, diz a médica.
Em média, o Hospital Dia do HU atende 15 crianças e 8 adultos, com diagnóstico confirmado por leishmaniose visceral, por mês. “Fora a região sul, todos os outros pacientes das outras regiões do Estado são atendidos aqui”, informa a médica.
O tratamento é realizado em regime de internação e dura em média 1 mês, com aplicações de Anfotercina B (que pode ser a convencional ou a lipossomal - esta mais eficiente com menos efeitos colaterais; no entanto, mais cara e somente usada nos casos mais graves) ou Glucantime que é usado para o tratamento em crianças. Após o tratamento, os pacientes são monitorados por até seis meses até a cura. A internação é necessária pois os medicamentos utilizados provocam efeitos colaterais e afetam principalmente os rins e o fígado. “No hospital, podemos acompanhar o manejo desses medicamentos”, diz a médica.
Os casos de óbito são comumente registrados em diagnósticos tardios e pacientes com doenças associadas, como diabete, Aids, cardiopatias e pneumonia, além de idosos, de forma geral. O quadro de leishmaniose agrava-se rapidamente e se não é diagnósticado, o paciente começa a evoluir para sintomas como palidez, sangramento pelo nariz, e acentuação do emagrecimento.
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