Da Reportagem
O Estado continua vivendo diametralmente dois singulares desenvolvimentos um econômico e outro social. No primeiro convive-se com tecnologias de produção e produtividade agrícola comparável a de países como Holanda, Dinamarca, Suíça, França ou até melhor. Já no segundo caso o Estado pode ser comparado a países como Nepal, Sudão, Haiti, Bangladesh, Somália, Serra Leoa... Como se diz por aqui, etaaaaa!
Uns tem demais e outros têm de menos. Paradoxal, não? Nessa dicotômica questão é inquestionável uma avaliação mais pormenorizada dos fatos. Mato Grosso comporta atualmente cerca de três milhões de habitantes e dessa população cerca de 180 mil pessoas vivem, ou pior, vegetam na mais extrema pobreza. Isto é, sem dúvida, uma questão que precisa ser vista com mais seriedade e corrigida pelos gestores públicos, não?
Dados estatísticos publicados mostram a situação dessa gente em situação subumana no Estado! Vê-se que a distribuição de renda por aqui é bastante injusta, não é mesmo? Urge, portanto, uma reavaliação criteriosa das políticas públicas ora em curso no Estado para reverter esse quadro de desrespeito à vida e à dignidade humana.
Por isto, questionamos: “que desenvolvimento é esse”? Para quê? Para quem? Com que propósito? É inadmissível que um estado como Mato Grosso propalado aos quatro cantos como potência econômica apresentar um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) tão díspare, não? Existem hoje “guetos” humanos explicitados pelo Estado. Um verdadeiro disparate!
Como justificar o injustificável? Com a palavra, os gestores públicos? É claro que esses guetos ainda são pratos cheios para muito “vivaldino e bom vivam” fazer política rasa distribuindo cestas básicas momentâneas, cobertores... Se apresentando como solução para uma questão tão séria, tão complexa e profunda, ou seja, brinca-se com vidas humanas.
Para completar, o Estado é líder em doenças como Hanseníase; Hantavirose; Leishmaniose; Dengue, Malária, Febre Amarela... Doenças associadas às condições precárias de saneamento básico, moradias, qualidade de vida e saúde... Erradicadas no século passado, elas voltaram a recrudescer com força total no território mato-grossense. Com a palavra, os gestores públicos! Ah!, convivemos também com trabalho escravo nas fazendas, morte precoce de silvícolas por inanição, desmatar e queimar para produção de subsistência de forma rudimentar é senso comum no meio rural por absoluta falta de assistência técnica. Como dizia Paulo Freire: “O poder público não consegue mirar com exatidão esse povo”.
Na prática existem duas camadas da sociedade humana em Mato Grosso: uma vivendo no século 21 e a outra em pleno período paleolítico. Penso sinceramente que há algo errado nesse discurso, não? Desenvolver o Estado promovendo a justiça social, respeitando a dignidade humana, é dever basilar do poder público, é na essência um principio básico que norteia o sentido da vida.
Por outro lado, não custa lembrar que a concentração de renda nas mãos de poucos fere de morte qualquer pensamento altruísta. Perguntamos que desenvolvimento é esse praticado em Mato Grosso? Com milhares de pessoas vivendo em condições de extrema pobreza? É assustador, não? Ou vergonhoso? Com a palavra...? Não perdemos nossos sonhos, portanto, temos a capacidade de nos indignar!
*ROMILDO GONÇALVES é biólogo, mestre em Educação e Meio Ambiente, perito ambiental em Fogo Florestal e professor/pesquisador da UFMT/Seduc
romildogoncalves@hotmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário