Uma das frentes da Fundação é o levantamento de todas as pesquisas de interesse em doenças negligenciadas. Em outras palavras, doenças que atingem, sobretudo, pobres e miseráveis esquecidas pelos cientistas, Estados e empresas. As estimativas dão conta que a Fundação B&M Gates, hoje em dia, dispensa mais dinheiro que a OMS - Organização Mundial de Saúde em pesquisas voltadas à saúde.
Para saber quem são as indústrias farmacêuticas, no Brasil, envolvidas com pesquisas e medicamentos para doenças negligenciadas, a Fundação solicitou de um emissário com conhecimento levantamento de informação. E, com experiência, o emissário procurou a Fundação Oswaldo Cruz, referência internacional em pesquisa com doenças epidemiológicas e infectocontagiosas, e O Ministério da Saúde, autarquia maior dos programas de políticas públicas para a saúde do Estado brasileiro.
Das duas referências brasileiras, a Fundação Bill e Melinda Gates recebeu a informação que a Hebron, laboratório nacional, ocupa-se com pesquisas e desenvolvimento de medicamentos, de modo geral que afligem a população brasileira. E, de maneira específica, a leichimaniose, doença que está associada á miséria nas América Latina, África, Índia e outros países asiáticos.
Há 20 anos no mercado brasileiro, a Hebron sempre apoiou pesquisas usando matéria-prima nacional. A empresa utiliza o potencial científico e tecnológico disponível como parte da riqueza científica produzida em universidades e institutos de pesquisas brasileiros. Nos últimos dois anos, tem-se comprometido em pesquisar algumas das doenças negligenciadas no mundo. Entre elas, a leishmaniose, uma das sete epidemias reconhecidas pela OMS. Cerca de dois milhões de pessoas são afetadas por essa doença, todo ano, no mundo. O Brasil está entre os cinco países com maior número de casos desta epidemia transmitida pela picada do mosquito flebótomo, conhecido popularmente por mosquito prego ou birigui.
Até hoje o medicamento usado tem quase 70 anos. É injetável. Tóxico. Prejudica coração, rins, fígado. O médico, antes de prescrever o medicamento, precisa avisar que a medicação será suspensa se sentir reação – tontura, náuseas, vômito. Era urgente a necessidade de um novo medicamento sem ação tóxica. Mas a denominação doença negligenciada não existe por acaso: usado em 1946, para tratar calazar infantil, o antimoniato N-metil-glucamina desde 1951 é empregado na leishmaniose cutâneo-mucosa.
Assim, a Hebron assumiu o compromisso de enfrentar o desafio e oferecer novos medicamentos. Tem pesquisado duas substâncias. Uma, semi-sintética, testada nos Estados Unidos com outra finalidade - Núcleo de Pesquisa da Hebron está utilizando, após estudos, para o tratamento da leishmaniose. Outra, de origem biológica, desenvolvida nos laboratórios Hebron - a pesquisa, em parceria com a Universidade Presbiteriana Mackenzie, está agora em fase adiantada com acompanhamento junto a pacientes em um hospital de referência no tratamento da epidemia no nordeste brasileiro. Ambas as substâncias foram testadas com sucesso em animais e, agora, são transportadas para testes em humanos. Nossa grande expectativa é repetir, nos humanos, os resultados obtidos em animais, que foram verdadeiramente animadores. A expectativa da Hebron é doar 24 meses de tratamento a todos os casos brasileiros. De acordo com nossas pesquisas, cada tratamento durará 5 dias. Os medicamentos terão ação leishmanicida – levam o parasita à morte. E atuam nas formas muco-cutânea e viscerais.
De uma coisa se há certeza, as doenças negligenciadas têm crescido e não regredido. Esforços como os que são realizados pela OMS e as iniciativas de estimular pesquisas e mapear pesquisadores que estão nos interesses da Fundação Bill e Melinda Gates podem contribuir para dissipar este equívoco histórico dos laboratórios internacionais e das políticas públicas nacionais que, também, negligenciam as epidemias associadas à organização social, bem-estar doméstico e público.
A Hebron tem mantido o Ministério da Saúde informado do andamento das pesquisas. O MS está animado com os resultados que são narrados. A Hebron espera, com a iniciativa, ajudar centena de milhares de pessoas no Brasil e no mundo. E está contente de integrar uma rede internacional envolvendo a OMS e a Fundação Bill e Melinda Gates. Os laboratórios nacionais de outros países serão contatados para produzir o medicamento e contribuir com para ajudar no tratamento da enfermidade.
*Josimar Henrique é Presidente da Hebron Farmacêutica - www.hebron.com.br e do Conselho da ALANAC - Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais - www.alanac.org.br.
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